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Tenho uma cabeça que nunca foi minha.
- Marcia Lailin
Que esportes fazem bem, ninguém pode negar! Não só para o físico, mas para mente também. Estudos associam a indução de um processo no cérebro chamado de neurogênese (formação de novos neurônios)[1] capaz de elevar várias capacidades mentais de inteligência como linguagem, aprendizado, memória, clareza de pensamento e controle de emoções [2].
No entanto será que todos os esportes se encaixam nesse padrão? Todos são totalmente benéficos ou existe um “lado negro” a ser explorado?
Traumatismo craniano e concussões, aquelas batidas de um objeto ou corpo bem forte que acontece contra a cabeça de uma pessoa é considerado um caso epidêmico nos esportes, como no boxe ou até mesmo cabeçadas contra bola no futebol. Estima-se que nos Estados Unidos isto gere um gasto estimado, direta e indiretamente, de 60 bilhões de dólares e centenas de milhões de pessoas aos hospitais [3].
Mas o que tem de tão perigoso assim bater a cabeça mesmo que isso não gere uma consulta médica? Pense em um pote com mel, um líquido viscoso, e coloque nele uma gelatina circular. Chacoalhe esse bote de maneira que essa gelatina bata nas paredes do pote e aos poucos vai quebrando a gelatina. É isso que acontece com o seu cérebro, série de lesões cerebrais! Claro, nosso cérebro não vai “quebrar” como a gelatina apesar da textura parecer muito semelhante. Esse tecido tem uma capacidade de se regenerar sozinho desde que as lesões sejam leves. Acontece que em esportes que utilizam o choque da cabeça como uma ferramenta de interação, são mais constantes e agressivos ao ponto da regeneração não ser veloz o suficiente para curar a lesão e alguns danos vão sendo acumulados ao longo da vida até que o pior aconteça. A nível microscópico, as células ficam deformadas e ativam comandos, intencionalmente ou não devido ao choque, para se suicidarem via radicais livres, calpaínas e caspases [4]. Ou seja, literalmente seu cérebro está morrendo aos poucos.
A nível dos sentidos humanos, isto gera impactos mentais como perda de consciência e amnésia em casos extremos, mas também gera mudanças comportamentais como fácil irritabilidade, problemas em estabelecer atenção plena, a capacidade de responder rapidamente a estímulos físicos fica mais lento, problemas de sono, dores de cabeça, sensação de estar “grog” a maior parte do tempo e sintomas emocionais instáveis[3,5].
Na imagem abaixo vemos as regiões que são mais expostas a essas concussões e que problemas cognitivos elas acarretam nas pessoas[4]:
O estudo[5] da equipe do Dr. Ryan C N D’Arcy, identificou sinais de vitalidade do cérebro em um equipamento de leitura cerebral, EEG, e demonstrou como esses sinais são prejudicados com a concussão. E ainda sugeriu que esses sinais são importantes de serem verificados antes do esportista voltar ativa em prol do tempo da regeneração acontecer corretamente. Todavia esse tipo de análise ainda não é um ato rotineiro nos esportistas, principalmente naqueles com baixa renda. Se o praticante é uma criança ou adolescente até 18 anos o impacto é mais severo ainda, porque partes importantes do cérebro estão sendo formadas e concussões podem levar a malformação cerebral e déficits de QI [6].
Quando o assunto é a longo prazo já é comprovado que essas concussões podem levar a desenvolvimento de AVC (acidente vascular cerebral, ou derrame)[7] e demência pugilística em casos de esportes como boxe na qual causam problemas de memória, sinais parkinsonianos do tipo de tremores e biologicamente apresentam placas de gorduras semelhantes a Alzheimer[8].
Não se esqueça, exercitar é bom, o esporte é uma comunhão entre saúde psicológica, física e social [2]. Faça uma escolha inteligente para sua mente a longo prazo. Se o intuito é aprender habilidades de defesa pessoal, existem estilos de lutas muito mais mortais que não cobrem abusar da concussão como forma de neutralizar o indivíduo como por exemplo o Krav Maga, um estilo de luta de Israel desenvolvido para guerra e autodefesa. Nele seus movimentos para definirem uma luta é questão de segundos sem a necessidade de ficar socando ou chutando em excesso para se defender de um inimigo. Autodefesas que se estendem muito em lutas são mais “gourmets” do que realmente aplicáveis. Referências:
[1] Intense Exercise Promotes Adult Hippocampal Neurogenesis But Not Spatial Discrimination; So Ji H., Huang Chao, Ge Minyan, Cai Guangyao, Zhang Lanqiu, Lu Yisheng, Mu Yangling; Frontiers in Cellular Neuroscience; 2017.
[2] Physical Activity and Cognitive Functioning of Children: A Systematic Review; Bidzan-Bluma, Ilona and Małgorzata Lipowska; International journal of environmental research and public health vol. 15,4 800. 19 Apr. 2018.
[3] The epidemiology of sport-related concussion; Daneshvar, Daniel H et al;Clinics in sports medicine; 2011.
[4] Neurobiological consequences of traumatic brain injury; McAllister, Thomas W.; Dialogues in clinical neuroscience;2011.
[5]Brain vital signs detect concussion-related neurophysiological impairments in ice hockey; Brain; Shaun D Fickling, Aynsley M Smith, Gabriela Pawlowski, Sujoy Ghosh Hajra, Careesa C Liu, Kyle Farrell, Janelle Jorgensen, Xiaowei Song, Michael J Stuart, Ryan C N D’Arcy; 2019.
[6] How Dangerous are Youth Sports for the Brain? A Review of the Evidence; Carly Rasmussen et al.;Berkeley Journal of Entertainment and Sports Law; 2018.
[7] Do concussions increase the risk of stroke or brain cancer?; Deanna Pai; Keck Medicine of USC.
[8] The occult aftermath of boxing; Roberts, G W et al.; Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry ;1990.
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