Manipular dispositivos touch-screen pode alterar circuitos cerebrais da atenção, cognição e recompensa.

Friday, 26 de July de 2019
O surgimento dos aparelhos touch-screen revolucionou a comunicação e o modo com que realizamos nossas atividades diárias, e isto não é nenhuma novidade. Com o passar dos anos nos tornamos uma sociedade cada vez mais conectada e globalizada com os principais acontecimentos ao redor do mundo. A mudança do paradigma tecnológico trouxe benefícios inenarráveis para toda a população, principalmente com o advento da educação a distância. 
 
O número de smartphones no brasil aumentou 147% em um período de dez anos [1] e alterou todo sistema econômico da geração atual. Podemos facilmente realizar grandes transações financeiras, controlar empresas ou fazer um curso à distância somente com um celular e acesso à internet, por exemplo.

Atualmente, a maioria dos dispositivos móveis é touch-screen, ou seja, possuem telas sensíveis ao toque. O advento de aparelhos deste tipo talvez tenha sido o causador do aumento exponencial de smartphones tanto em números, quanto na quantidade de atividades possíveis de ser realizadas. Aparelhos celulares touch-screen aumentam a sensação de feedback e interação direta com o aparelho, e portanto, podem ser considerados uma extensão da nossa mente [2].

 

 
A investigação dos efeitos cognitivos e atencionais do uso excessivo e moderado dos smartphones não é recente no campo das neurociências. Diversos estudos já mostraram que o uso de smartphones pode diminuir os pensamentos analíticos [3], capacidade cognitiva [4], desempenho escolar [5] e qualidade do sono [6], por exemplo. 
 
Você já parou para pensar qual seria o efeito cerebral em consumir conteúdo em um smartphone touch-screen em comparação com livros/revistas em papel? Um estudo recente mostrou algumas mudanças cerebrais associadas ao toque ativo em um sistema touch-screen, e os resultados são muito importantes principalmente para entender o motivo do uso exponencial desses aparelhos. 
 
Neste estudo os autores propuseram analisar as alterações causadas apenas pelo toque ativo e passivo em um sistema de interação homem-computador touch-screen [7]. Neste sentido, o sistema desenvolvido para o estudo era composto de uma tela touch-screen onde aparecia um estímulo visual de comando para realização da tarefa, um dispositivo para emissão de estímulo sonoro e um eletroencefalograma para mensurar a atividade cerebral associada a tarefa dos sujeitos, conforme pode ser observado na imagem abaixo.


 
 

Na imagem acima podemos observar o sistema desenvolvido pelos pesquisadores. Em A podemos observar o diagrama geral da interface homem-computador desenvolvida. Para mensurar a atividade cerebral durante todo o experimento foi utilizado um EEG BrainAmp (Brain Products) com 64 eletrodos posicionados no escalpo de acordo com o sistema internacional de posicionamento de eletrodos ativos 10/5. A tarefa dos participante da pesquisa é descrita na imagem B. Em resumo, a tarefa dos participantes era utilizar a tela touch-screen para agitar as cordas de uma guitarra virtual e, sendo assim, recebiam feedback visual e auditivo relacionados à tarefa. O toque poderia ser do tipo ativo (toque verdadeiro com feedback) ou passivo. A ordem dos tipos de toque foi randomizada entre os participantes. Logo após a finalização do experimento, foi aplicado um questionário de satisfação para verificar valência, satisfação e excitação relacionado à tarefa. 


O principal resultado da atividade cerebral associado ao toque em um dispositivo touch-screen é mostrado na imagem abaixo. Você lembra que em outro post nós exemplificamos os principais tipos de ondas/frequências cerebrais? Pois bem, tocar em uma tela touch-screen parece alterar as ondas cerebrais na frequência beta e gama, que estão diretamente relacionados com o processo de cognição superior e atividade cortical. 


 
Outro resultado muito importante para entender o motivo do aumento no consumo de conteúdo em dispositivos touch-screen e o aumento do número de vendas de smartphones [1] é justamente o que foi observado no segundo resultado do artigo. Foi identificado um aumento médio nos níveis de satisfação, excitação, dominância e valência somente nos estímulos de toque ativo (toque ativo) medido através do questionário aplicado logo após o final da sessão experimental (ver resultados na figura abaixo).


 
Por fim, o artigo propõe uma evidência quantitativa da ativação cerebral causada pelo toque em um dispositivo touch-screen. Os autores sugerem, portanto, que o toque ativo em um dispositivo touch-screen pode modular a sensação e o processo cognitivo no processamento do tipo bottom-up que está diretamente relacionado com o controle atencional do movimento enquanto interage com o dispositivo touch-screen. 
 
Em termos práticos, o que isso significa? O processamento bottom-up mediado pelo controle atencional do movimento pode estar relacionado com o sistema límbico/mesolímbico, que permeia todos as principais recompensas comportamentais. De certa forma, interagir com um smartphone touch-screen de forma ativa ativa as áreas cerebrais relacionadas a uma recompensa (similar ao vício em drogas ou satisfação ao alimentar-se), o que pode explicar a teoria que os smartphones são considerados, por nós, uma extensão de nós mesmos.
 
Para saber mais detalhes sobre esta explicação, veja o vídeo abaixo.





Referências

[3] - Barr, N., Pennycook, G., Stolz, J. A., & Fugelsang, J. A. (2015). The brain in your pocket: Evidence that Smartphones are used to supplant thinking. Computers in Human Behavior, 48, 473-480.
[4] - Ward, A. F., Duke, K., Gneezy, A., & Bos, M. W. (2017). Brain drain: The mere presence of one’s own smartphone reduces available cognitive capacity. Journal of the Association for Consumer Research, 2(2), 140-154.
[5] - Kibona, L., & Mgaya, G. (2015). Smartphones’ effects on academic performance of higher learning students. Journal of Multidisciplinary Engineering Science and Technology, 2(4), 777-784.
[6] - Heo, J. Y., Kim, K., Fava, M., Mischoulon, D., Papakostas, G. I., Kim, M. J., ... & Jeon, H. J. (2017). Effects of smartphone use with and without blue light at night in healthy adults: A randomized, double-blind, cross-over, placebo-controlled comparison. Journal of psychiatric research, 87, 61-70.
[7] - Park, W., Jamil, M. H., & Eid, M. (2019). Neural Activations Associated With Friction Stimulation on Touch-Screen Devices. Frontiers in neurorobotics, 13, 27.

The content published here is the exclusive responsibility of the authors.

Autor:

Lucas Galdino

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