La Maladie de Parkinson: Uma patologia que irá afetar mais de 12 milhões de pessoas até 2050

Wednesday, 12 de January de 2022

“Sou anomalia insidiosa a me insinuar, manifesto-me pela simples diminuição de seu piscar, em seu olhar fixo, em seus lentos movimentos. Estranho-me na monotonia de sua voz, na oleosidade lustrosa, graxento de sua face, nos tremores manifestados em suas mãos, que lhe são involuntários. Sou a perda de neurônios a lhe roubar à dopamina, a lhe alterar os movimentos, a lhe causar problemas mentais, a lhe tornar a marcha difícil. Na festinação do movimento acelerado, ou na casualidade congelada de sua locomoção, torno-me rigidez muscular. Sou a degeneração de seu sistema nervoso central, sem causa conhecida, sem cura. Sou a idiopática doença de PARKINSON.”

Lufague





La Maladie de Parkinson, assim nomeada por Jean Martin Charcot em homenagem ao seu descobridor, James Parkinson, membro do Colégio Real de Cirurgiões de Londres e responsável por reportar cientificamente em 1871 um estudo intitulado “An essay on the shaking palsy”, a qual, pela primeira vez, descreve uma doença que anos mais tarde receberia seu honroso nome, a doença de Parkinson. 

A paralisia agitante de J. Parkinson ou simplesmente conhecida como doença de Parkinson (DP), é classicamente conceituada como uma patologia neurodegenerativa, crônica, progressiva e irreversível caracterizada pela morte de neurônios dopaminérgicos na substância negra compacta do mesencéfalo (SNpc) e consequente depleção de dopamina na via nigroestriatal e nos núcleos da base (NB). A dopamina, que é um importante neurotransmissor, responsável por modular principalmente a circuitaria motora do córtex - núcleos da base - tálamo - córtex (CGTC) e coordenar com precisão os movimentos voluntários. Sofre desequilíbrio e como resultado ocorre a morte dos neurônios produtores de dopamina na SNpc. A diminuição gradativa desta catecolamina no estriado, leva ao completo desajuste dos movimentos motores voluntários, fenômeno este, que é visto nos sintomas clássicos característicos da DP, como tremor de repouso, bradicinesia (lentidão dos movimentos voluntários), rigidez muscular, instabilidade postural. 


Incapacitante, debilitante e cruel, assim deve ser lembrado os pacientes que sofrem com essa desordem neurodegenerativa. A qual, não faz distinção de raça, gênero, classe social ou qualquer outro fator de discriminação social. De maneira inesperada e sem misericórdia leva a morte de neurônios mesencefálicos, que por sua vez, altera a circuitaria do córtex motor com os gânglios da base, tálamo e instala um quadro debilitante em seus pacientes. Assim como descrito brilhantemente no poema que abre essa dissertação, pelo poeta Português Lufague, a DP não apresenta etiologia conhecida, sendo considerada, portanto, uma doença idiopática.

Apesar dos incansáveis estudos, cientistas ainda não tem a resposta sobre o que causa a DP. Desse modo, alguns dos fatores já aceitos na comunidade científica que podem levar ao desenvolvimento da DP são: Distúrbios genéticos como alteração do gene SNCA e PARK1 que codificam a proteína alfa-sinucleína, fatores ambientais (a citar, pesticidas e herbicidas , como: a rotenona), substâncias químicas industriais como metais pesados, drogas como MPTP, envelhecimento, estresse oxidativo, disfunção do complexo I da cadeia respiratória mitocondrial, ativação da cascata de eventos bioquímico deletério, excitotoxicidade glutamatérgica, diminuição de fatores neurotróficos e outros fatores (infecção, inflamação, citocinas e micróglia) podem estar envolvidos no desenvolvimento do Parkinson. Sendo portanto, considerada como uma patologia multifatorial.

Para a comunidade científica não é nenhuma novidade que a DP ainda esteja rankeada na lista das desordens neurológicas que mais acometem a população de idosos. Segundo dados estatísticos da Organização Mundial da Saúde, mundialmente são mais de 6,5 milhões de indivíduos afetados com a DP. Apesar dos esforços científicos na busca de respostas para entender a etiologia da DP e possíveis intervenções terapêuticas. As estratégias desenvolvidas ainda não são suficiente para evitar o surgimento dessa patologia na população do futuro, bem como, terapias eficientes que possam levar a sua cura.

Um fator é relevante! A população mundial está envelhecendo e com ela o futuro da população mundial está comprometido. Essa não é uma discussão atual. Com o início da independência feminina, a taxa de filhos por mulher reduziu consideravelmente e a expectativa de vida aumentou. As pessoas estão vivendo por mais tempo e acrescido a esses anos vividos de experiência, o que deveria ser motivo de orgulho para a sociedade, na verdade, tem se tornado uma grande preocupação para as autoridades. Com o aumento do número de idosos surgem também o aumento de desordens neurológicas associados à saúde do idoso, em especial, o Alzheimer e o Parkinson. Portanto, especula-se que até o ano de 2050 mais de 12 milhões de indivíduos serão afetados com a DP mundialmente.

De acordo com a OMS, até 2050 é esperado que a população com faixa etária superior a 60 anos atinja a marca de 2 bilhões de pessoas. Dobrando, portanto, a estimativa realizada em 2015, a qual constava com 900 milhões de idosos no mundo. Desse modo, esses dados preocupam a sociedade, tendo em vista que ainda não existem esclarecimentos sobre a causa da DP e terapias eficazes.


Mas como evitar essa calamidade? Como impedir que no futuro a humanidade sofra com o aumento de uma população de idosos enfermos com desordens neurológicas? Segundo a OMS, o envelhecimento saudável deve ser considerado como prioridade global. Associado a essa estratégia preventiva, cientistas têm estudado novos métodos em busca de terapias alternativas que visem melhorar a qualidade de vida desses pacientes, como a estimulação medular e ondas de ultrassom como método não invasivo para neuromodulação.

O envelhecimento saudável está diretamente ligado ao estilo de vida encarado por cada indivíduo. Sedentarismo, estresse, hábitos alimentares ruins, tabagismo e álcool, são alguns dos principais fatores que levam ao estresse oxidativo das células neuronais, que, por sua vez, ocorre liberação de substâncias tóxicas e provocam a morte dos neurônios. Para tanto, o envelhecimento de um cérebro saudável depende de vários fatores, como, estilo de vida saudável, consumo de alimentos ricos em vitaminas e minerais e a prática de atividades físicas. Essas tarefas garantem uma melhor preservação da plasticidade neuronal e da função cognitiva do cérebro humano, bem como, capacidade adaptativa do cérebro.

Assim como já discutido no blog “Neuroplasticidade: Como o cérebro se adapta à situações adversas?”, a plasticidade neuronal é a capacidade que o cérebro humano tem de se adaptar a situações diversas por meio da formação de novas conexões neurais. É em virtude da neuroplasticidade que são construídas e consolidada as memórias, que são adquiridas novas habilidades e novos aprendizados. A falta de atividades físicas, bem como, a diminuição de tarefas que dependem da atividade mental promove o enfraquecimento e degeneração das sinapses, estruturas complexas importantes para a formação das conexões cerebrais.    

Um estudo publicado em 2019 intitulado “O efeito benéfico da atividade física na função cognitiva em uma população chinesa sem demência” conclui que a atividade física previne o risco de desordens neurológicas na população de idosos. Segundo a pesquisa relata que estudos anteriores afirmam a relação positiva entre a prática de exercício físico na prevenção da neuroplasticidade e da atividade cognitiva. Estudos demonstram que a prática de atividades podem levar a um aumento na estrutura anatômica do hipocampo, região fundamental no armazenamento de memória e consolidação da informação. Bem como, é fundamental para diminuir riscos associados à demência em população de idosos. Para tanto, se pretendemos construir um futuro com uma população de idosos saudáveis é necessário que haja uma maior prevenção da saúde do idoso e estudos científicos que possam auxiliar no tratamento de doenças que afetam a função cognitiva e plasticidade cerebral.




Referência:


[1]. Parkinson, J. An Essay on the Shaking Palsy. London: Whitingham & Rowland, 1817

[2]. Hélio A.G. Teive. O papel de Charcot na doença de Parkinson. Arq Neuropsiquiatry. 1998;56(1):141-145.

[3] Stanley Fahn. Description of Parkinson’s Disease as a Clinical Syndrome. Department of Neurology, Columbia University College of Physicians & Surgeons, New York, New York 10032, USA. Ann. N.Y. Acad. Sci. 991: 1–14 (2003). © 2003 New York Academy of Sciences.

[4] Wolfgang H. Oertel. Recent advances in treating Parkinson’s disease. 2017

[5] Rita Perfeito e Ana Cristina Rego. Papel da alfa-sinucleína e da disfunção mitocondrial associada à doença de Parkinson. Rev Neurocienc 2012;20(2):273-284.

[6] Walter A Rocca. The burden of Parkinson’s disease: a worldwide perspective. October 1, 2018 http://dx.doi.org/10.1016/ S1474-4422(18)30355-7. Retrieved from: https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S1474-4422%2818%2930355-7

[7] World health Organization.  Ageing and health. Retrieved from: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/ageing-and-health

[8] Sun Lin, Yang Yang, Qiu Qi, Li Wei, Nie Jing, Zhang Jie, Li Xia and  Xiao Shifu. The Beneficial Effect of Physical Exercise on Cognitive Function in a Non-dementia Aging Chinese Population. Frontiers in aging neuroscience, 2019. 


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Autor:

Tassia Nunes

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