Especial Brain TV Neuroantropologia, sociedade, cultura e cognição: 16 de Fevereiro de 2021

Tuesday, 29 de December de 2020
 


     O nosso cérebro frequentemente é interpretado como um sistema com muitos mecanismos fisiológicos estabelecidos e dependente da fisiologia do indivíduo e interação com outros sistemas do próprio corpo. Porém, os estímulos externos relacionados com a interação do indivíduo com o meio e com outras pessoas possuem um importante papel na definição de parâmetros neurológicos funcionais e estruturais. Estamos inseridos em uma sociedade fortemente multicultural em todas as partes do mundo. A cultura acaba moldando o indivíduo que está imerso nela, podendo traçar desde sua personalidade até os valores éticos e morais de um indivíduo (Cognição individual), além de está intimamente relacionado com o processo de formação de uma Cognição Social. Dessa forma,  muitos trabalhos relacionando neurociência e cultura têm se destacado atualmente, visando a investigação da influência que a cultura de uma sociedade pode ter sobre o desenvolvimento cognitivo-funcional de um indivíduo e como os mesmos podem influenciar esse desenvolvimento na sociedade. Nesse contexto, surge a Neuroantropologia, que é o estudo do sistema nervoso e a sua interação na cultura e do comportamento humano, tendo como principal objetivo compreender a relação dos sistemas sociais e culturais das pessoas com suas formações biológicas cerebrais que impactam em sua cognição.
 
     A neuroantropologia pode atuar de duas formas,  voltada para neurociência cultural  ou  neurociência social. A primeira está relacionada com a questão de como os significados e práticas socialmente compartilhados se refletem na função e estrutura do cérebro. Já a atuação voltada para ciências sociais tem uma visão inversa, de como a neuroantropologia está relacionada aos processos neurais que geram significados e práticas socialmente compartilhados. Sabendo de ambas abordagens da neuroantropologia, como podemos desenvolver métodos para aprimorar esse tipo de estudo e como utilizar isso para a melhora das relações sociais? Para isso, é importante entendermos quais tipos de mudanças o nosso cérebro está suscetível a influências culturais antropológicas. Trabalhos mostram que  fatores ambientais externos podem definir o que uma criança pode tornar-se quando adulta. Além disso, trabalhos realizados com EEGfNIRS e fMRI mostram por exemplo que crianças que viveram uma infância em uma família com condição socioeconômica baixa apresentaram alterações prejudiciais cerebrais funcionais e estruturais. Outros estudos também mostraram que a neuromodulação no córtex pré-frontal pode influenciar na tomada de decisão e no comportamento social. Além disso, sabemos que 0 aos 11 anos, o cérebro da criança pode chegar a possuir o dobro de sinapses do cérebro adulto (principalmente em 12 meses após o nascimento), sendo uma fase na qual aprendemos com mais facilidade, ao mesmo tempo em que temos uma grande dificuldade de estabilizar nossas emoções. Geralmente é nessa fase em que a cultura age de forma mais intensa sobre o processo de formação do indivíduo como um ser social e de seus preconceitos.
 
     Nesse contexto, surgem possibilidades de intervenção na tentativa de modificar comportamentos nocivos à sociedade a partir da não focalização de conceitos culturais,ou seja, expor a criança desde cedo a conteúdos multiculturais livre de preconceitos estabelecidos pela sociedade em que a criança vive, sempre prezando a idéia de que a moral e os valores éticos são fatores variantes de tempo e espaço. Isso pode ser possível  por exemplo através do estudo cultural de civilizações presentes na américa latina antes do período colonial, como os Olmecas, Incas, Maias dentre outras civilizações. Trabalhos relacionados a esse tipo de conteúdo com as novas ferramentas tecnológicas seriam uma boa alternativa na tentativa de moldar os valores éticos sociais de uma criança. Outra ideia de desenvolvimento de desenho experimental viável é modificar ou apagar a memória coletiva de um indivíduo já adulto no intuito de moldar valores éticos a partir de ferramentas de neuromodulação como o tDCS. Caso isso seja viável, passamos a direcionar o indivíduo a construir um inconsciente coletivo mais moral e ético e valorizar a formação de seu inconsciente individual livre de preconceitos, oferecendo a melhora das relações sociais e entendendo melhor o estudo da neuro antropologia.
 
 Quer saber mais sobre o assunto? Preparamos uma programação especial na BrainTV Channel dia 16 de Fevereiro de 2021, nos horários:
 
00:00 - Brain and society;
02:30 - Inovação tecnológica e educação;
06:05 - memória cultural coletiva; 
08:40 - Cultural neuroscience;
12:00 - Neuroanthropology  ;
14:00 - civilizações pré-colombianas;
17:40 -  Olmecas;
21:50 - Incas;
 
Te esperamos !
 
Abaixo, também preparamos uma playlist especial sobre o assunto para você:



Referências:
 
Whiten, A. (2019). Cultural Evolution in Animals. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, 50(1). doi:10.1146/annurev-ecolsys-110218-025040 
 
Domínguez, D. JF, et al. "The brain in culture and culture in the brain: a review of core issues in neuroanthropology." Progress in brain research 178 (2009): 43.
 
 
WIJEAKUMAR, Sobanawartiny et al. Early adversity in rural India impacts the brain networks underlying visual working memory. Developmental science, v. 22, n. 5, p. e12822, 2019.
 
Espino-Díaz, L.; Alvarez-Castillo, J.-L.; Gonzalez-Gonzalez, H.; Hernandez-Lloret, C.-M.; Fernandez-Caminero, G. Creating Interactive Learning Environments through the Use of Information and Communication Technologies Applied to Learning of Social Values: An Approach from Neuro-Education. Soc. Sci. 2020, 9, 72.

Campbell BC, Garcia JR. Neuroantropologia: evolução e incorporação emocional. Front Evol Neurosci . 2009; 1: 4. Publicado em 24 de novembro de 2009. Doi: 10.3389 / neuro.18.004.2009

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Autor:

Rodrigo Oliveira

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