Envelhecimento, células do sistema imunológico e o cérebro
Wednesday, 13 de January de 2021
O que acontece no nosso cérebro quando envelhecemos?
Entender o que acontece com o nosso corpo quando envelhecemos é de grande interesse tanto para o conhecimento neurocientífico quanto para sanar curiosidades individuais.
Por que perdemos a memória com o tempo? Qual a relação do envelhecimento com algumas doenças neurodegenativas como Parkinson e Alzheimer?
Bom, ainda são muitas perguntas a responder, mas novos achados ajudam a entender um pouco mais sobre o papel das células do sistema imunológico na perda cognitiva associada ao envelhecimento.
Senescência celular e envelhecimento
A senescência é um processo celular programado do organismo que acaba por eliminar células danificadas. Esse processo é importante pois pode promover/iniciar o processo de reparação tecidual e até mesmo evitar o surgimento de tumores pelo acúmulo de células defeituosas. A senescência está associada ao envelhecimento natural do organismo e possui uma função reguladora, entretanto, também está associada a algumas disfunções do sistema nervoso.
O acúmulo de células senescentes é uma das principais características do envelhecimento cerebral e é também um dos principais causadores de patologias associadas ao envelhecimento. Algumas dessas patologias estão relacionadas ao fato das células senescentes estimularem a resposta de células do sistema imune, aumentando a ocorrência de inflamações, podendo trazer prejuízos à estrutura do tecido nervoso e também à sua função, resultando, por exemplo, na perda ou redução de algumas funções cognitivas.
Células NK e a senescência
Células NK também são chamadas de células exterminadoras naturais e são de grande importância para a resposta do sistema imunológico. Essas células, que são um tipo de linfócito, estão relacionadas a destruição de células infectadas e são parte importante do sistema imune inato.
Célula NK Tem aparência similar aos outros linfócitos com as quais atua em conjunto e possui origem comum. (fonte da imagem: Wikipedia)
Em um trabalho realizado por Wei-Na Jin e colaboradores foi visto que essas células do tipo NK se acumulam numa região do hipocampo, chamada de dentate gyrus. Isso ocorre pois parece que nessa mesma região ocorre o acúmulo de neuroblastos senescentes, sendo os neuroblastos células embionárias precursoras dos neurônios.
Diagrama de regiões do hipocampo, sendo DG correspondente ao dentate gyrus. que promovem a ativação das células “matadoras naturais”.(Fonte da imagem: Wikipedia)
Essas células senescentes promovem a secreção de interleucinas que promovem a ativação das células “matadoras naturais”. Em contrapartida, as células NK eliminam os neuroblastos senescentes, resultando portanto num processo de perda cognitiva. Estudos realizados com camundongos idosos demonstram que a eliminação de células NK resultou em uma melhora cognitiva e teve impactos positivos também na plasticidade sináptica.
O estudo realizado por Jin e colaboradores é promissor pois sugere que as céulas NK podem ser um alvo terapêutico interessante para tratar de patologias relacionadas ao envelhecimento. Além disso, foi visto que o acúmulo de células NK não ocorre da mesma em todos tecidos nervosos.
Sabemos que todos os órgãos e tecidos envelhecem mas também sabemos que isso não ocorre da mesma maneira. A pesquisa realizada por Jin e colaboradores reforçam a visão de que diferentes tecidos passam por diferentes processos de envelhecimento, significando que precisamos de abordagens distintas tanto para estudar quanto para tratar eventuais patologias associadas a esses proceessos.
Mais estudos são necessários para entendermos melhor essa interação entre o sistema imunológico e o sistema nervoso no envelhecimento, por exemplo, ainda não se sabe ao certo como os neuroblastos tornam-se senescentes. Há necessidade de mais pesquisas sobre envelhecimento e suas diferentes etapas.
Possibilidades
Estudos sobre memória, atenção e aprendizagem com auxílio de técnicas de neuroimagem e EEG são de extremo interesse para entendermos as funções cognitivas no envelhecimento. Realizar estudos focando em um público mais velho com grupos em diferentes estágios de envelhecimento pode, atrelado aos novos conhecimentos sobre a interação do sistema nervoso com o sistema imunológico, trazer diversos benefícios. Com isso, poderemos, por exemplo, entender tanto o envelhecimento natural quanto a neurofisiologia de doenças neurodegenerativas, já que há semelhanças com a perda cognitiva por envelhecimento natural e a causada por doenças como Parkinson e Alzheimer.
Jin, WN., Shi, K., He, W. et al. Neuroblast senescence in the aged brain augments natural killer cell cytotoxicity leading to impaired neurogenesis and cognition. Nat Neurosci 24, 61–73 (2021). https://doi.org/10.1038/s41593-020-00745-w
Papismadov, N., Krizhanovsky, V. Natural killers of cognition. Nat Neurosci 24, 2–4 (2021). https://doi.org/10.1038/s41593-020-00749-6
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