É possível sentir sensações em membros amputados?

Tuesday, 18 de January de 2022
Você já ouviu falar de pessoas que amputam um membro, mas, após sua perda afirmam continuar sentindo o membro? Isso é possível? É psicológico? Existe explicação neurocientífica?

Uma experiência comum entre as pessoas que tem algum membro amputado é a percepção de sensações do membro amputado, quando, na verdade, outras partes do corpo são estimuladas. Esse evento é chamado de “síndrome do membro fantasma” – Que caracteriza-se como uma síndrome neurológica frequentemente observada em amputados, definida por sensações fantasmas e dor proveniente do membro ausente.  Isso acontece geralmente pela estimulação de regiões da pele cujas representações somatotrópicas são próxima aquelas do membro amputado; por exemplo, a sensação pode ser provocada em uma perna fantasma pela estimulação da face.

E como isso é possível? A área cerebral responsável pela percepção dessas sensações está localizada no lobo parietal – córtex somatossensorial. Dessa forma, a plasticidade pós lesão leva a uma reorganização do mapa somatatotópico cortical. Com isso, métodos de obtenção de imagens funcionais do cérebro revelam que as regiões corticais destinadas originalmente aos membros ausentes passam a ser ativadas com a estimulação de outras áreas, pois, as sensações sensoriais dessa região era corticalmente vizinhas a do membro perdido, com isso, para que o córtex não fique ocioso ele “assume” a função do vizinho. Porém, essa correlação equivocada pode levar a confusão na interpretação das sinalizações sensoriais.

 

A figura mostra uma representação do córtex somatossensorial (S1) e as funções de cada subdivisão.  

Exemplificando, se o mapa cortical da mão está próximo ao mapa cortical do ombro por exemplo, uma pessoa que tem a mão amputada e recebe um estímulo no ombro, ele pode (a depender desse estimulo), ter a sensação na sua mão ausente.  

Embora ter mais área cortical para a percepção de uma parte do corpo possa não ser necessariamente benéfico para os amputados, aparentemente é bom outras pessoas, como por exemplo, os músicos. Violinistas devem dedilhar continuamente as cordas com sua mão esquerda; os dedos da outra mão, recebem provavelmente menos estimulação individual. O imageamento funcional de S1 mostra que a quantidade de córtex dedicada aos dedos da mão esquerda é consideravelmente aior nesses músicos. É provável que este seja um processo de remapeamento continuo que ocorre no córtex de cada pessoa na medida em que variam as suas experiências de vida, ou seja, quanto mais usa aquela área, mais partes do córtex serão dedicadas e o indivíduo fica mais aprimorado naquela tarefa. Os mecanismos subjacentes a esses tipos de plasticidade do mapa não são totalmente compreendidos. Entretanto, eles provavelmente envolvem processos associados a aprendizagem e a memória.

Se você perde uma mão, por exemplo, a área que respondia como sensibilidade da mão, vai responder por áreas próximas a ela. Por sua vez, se você utiliza muito uma área (como dedos), ela vai crescer em comparação a áreas que são pouco utilizadas, ou seja, nosso mapa cortical é completamente dinâmico.

O vídeo mostra o relato de um senhor que teve sua perna amputada mais relata sentir sensações nesse membro como se ele ainda estivesse lá. Assim como esse senhor, outras pessoas como o iatista Lars Grael que sobreviveu a um acidente no mar após uma lancha atropelar seu barco, teve sua perna amputada e relata ainda sentir dores nesse membro. Em uma de suas entrevistas Grael afirmou:

"Sinto a perna perdida 24 horas por dia, quase sempre como manifestação de dor, que varia de tipo e intensidade, se estou estressado é pior".

Hoje alguns estudos já propõem a utilização de realidade virtual e aumentada para tratamento de síndrome do membro fantasma, ), assim como estudos envolvendo estimulação no córtex parietal, bem como,  estimulação da coluna dorsal, etc.

Pesquisas feitas com pessoas que relatam essas sensações utilizam gravações foram feitas usando um sistema EEG de 32 canais para mapeamento do córtex somatossensorial. A propósito nossa plataforma dispõe nesse tipo de EEG


REFERÊNCIAS

BOURLON, Clémence et al. Cortico–thalamic disconnection in a patient with supernumerary phantom limb. Experimental brain research, v. 235, n. 10, p. 3163-3174, 2017.

SHEIKH, Afeef. Utilizing an Augmented Reality System to Address Phantom Limb Syndrome in a Cloud-Based Environment. International Journal of Grid and High Performance Computing (IJGHPC), v. 9, n. 1, p. 14-24, 2017.

SHUSTER, Gary Stephen et al. Treatment of Phantom Limb Syndrome and Other Sequelae of Physical Injury. U.S. Patent Application n. 15/870,446, 17 maio 2018.

WANG, Huan et al. Phantom limb syndrome induced by combined spinal and epidural anesthesia in patients undergoing elective open gynecological surgery. Medicine, v. 97, n. 41, 2018.

The content published here is the exclusive responsibility of the authors.

Autor: Livia Nascimento Rabelo
#eegerpbci #neuroscience #videosynclab #physiologyandbehavior #stimuluspresentations #brainstimulation #socialinteraction #eegfmri #eegnirscombined #eeglatam #plasticityneurofeedbackneuromodulation #eegelectrodecaps #nirsbcineurofeedback #selfperceptionconsciousness #eegnirseyetracking #eegactiveelectrodes #bienestarwellnessbemestar #neurorights #neurocognition #attentionperceptionaction #functionalconnectivity #cognitiveneuroscience #stresslearningbullying #sentienceconsciousness