Como o estresse pode reforçar nossos hábitos

Thursday, 15 de June de 2023


     O estresse é uma resposta fisiológica e psicológica asituações desafiadoras ou ameaçadoras. É uma experiência comum na vida cotidiana e pode afetar significativamente nosso comportamento e bem-estar. Aqui, vamos discutir como o estresse pode influenciar a formação e o fortalecimento de hábitos.

     Para entender a relação entre estresse e hábitos, é importante considerar a interação entre o cérebro, o sistema nervoso e as respostas hormonais associadas ao estresse. Sendo um termo rotineiramente utilizado, o estresse é uma resposta que os organismos tendem a dar em virtude de acontecimentos passados ou futuros que causem estranhamento ou desconforto. É uma reação bem comum nos indivíduos, mas que merece atenção especial para que não possa prejudicar, em níveis excessivos.  O estresse desencadeia uma série de eventos neurofisiológicos complexos que envolvem principalmente duas estruturas cerebrais: a amígdala e o córtex pré-frontal. A amígdala é uma região do cérebro associada à resposta emocional, especialmente ao medo e à ansiedade. Quando uma situação estressante ocorre, a amígdala é ativada, desencadeando a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol. O cortisol tem efeitos generalizados no organismo, incluindo o aumento da disponibilidade de glicose no sangue para fornecer energia rápida. Os prejuízos à saúde dos indivíduos com elevados níveis de cortisol são muitos, indo desde o despertar de doenças que estavam “adormecidas” como esquizofrenia ou depressão até perdas de memória e diminuição no volume de substância cinzenta no cérebro. Vale salientar que a longo prazo, os prejuízos a saúde são ainda mais exagerados e podem ser irreversíveis. Já o córtex pré-frontal, por sua vez, é uma região do cérebro envolvida no planejamento, na tomada de decisões e no controle dos impulsos. Durante períodos de estresse, a atividade do córtex pré-frontal é inibida, enquanto a amígdala é ativada. Essa desregulação na comunicação entre essas regiões cerebrais pode levar a mudanças comportamentais, incluindo a formação e o fortalecimento de hábitos.
 
    Pesquisas recentes têm demonstrado que o estresse crônico pode levar a alterações estruturais e funcionais no cérebro, especialmente nas regiões associadas ao processamento do estresse e à formação de hábitos. Um estudo mostrou que o estresse crônico está associado ao aumento do volume da amígdala, o que pode levar a respostas emocionais mais intensas e prolongadas. Além disso, o estresse crônico pode levar a mudanças na conectividade funcional entre a amígdala e o córtex pré-frontal, resultando em uma maior ativação da amígdala e uma menor capacidade de regulação emocional pelo córtex pré-frontal. Durante períodos de estresse, é comum recorrermos a comportamentos habituais como forma de aliviar a tensão emocional. Esses comportamentos podem variar desde hábitos saudáveis, como fazer exercícios físicos, até hábitos prejudiciais, como fumar ou comer compulsivamente. O estresse crônico pode levar a um aumento da busca por recompensas imediatas e a uma diminuição da capacidade de resistir a impulsos. Isso ocorre porque o estresse afeta o sistema de recompensa do cérebro, que é responsável pela liberação de neurotransmissores, como a dopamina, quando nos envolvemos em comportamentos gratificantes. Um estudo mostrou que o estresse agudo pode aumentar a taxa de aprendizagem e a persistência de comportamentos habituais, mesmo quando esses comportamentos não são mais recompensadores. Isso sugere que o estresse pode promover a persistência de hábitos, mesmo quando eles não são benéficos ou adaptativos.

      Sabendo que o estresse crônico pode levar a alterações estruturais e funcionais nessas regiões cerebrais, resultando em respostas emocionais intensificadas, dificuldades na regulação emocional e uma maior busca por recompensas imediatas, é importante investigar quais dessas alterações estão associadas a cada mudança de hábito. Por exemplo, trabalhos realizados com eletroencefalograma (EEG) utilizando sub-banda dos grupos teta, alfa e beta com foco na Densidade Espectral de Potência (PSD), demonstraram que fumantes têm uma banda teta menor, o que mostra um sentimento menos estressado em comparação com os não fumantes com uma banda teta mais alta. Fumantes também apresentam banda alfa mais alta, o que mostra que eles são mais casuais, em contraste com não fumantes com banda alfa mais baixa. Dessa forma, é imprescindível que novos trabalhos sejam realizados caracterizando essas mudanças cerebrais associadas a cada mudança de hábitos benéficos e não benéficos relacionados ao estresse.
 


Referências:
 
Mokhtar, A. S., et al. "Electroencephalogram (EEG) pattern for human smoke habit." (2022): 86-103.
 
Schwabe, L., Höffken, O., & Wolf, O. T. (2020). Stress disrupts the balance between goal-directed and habit systems. Journal of Neuroscience, 40(39), 7565-7572.
 
ZORN, Jelle V. et al. Cortisol stress reactivity across psychiatric disorders: a systematic review and meta-analysis. Psychoneuroendocrinology, v. 77, p. 25-36, 2017.
 
Kosendiak, Aureliusz, et al. “As mudanças no enfrentamento do estresse, uso de álcool, tabagismo e atividade física durante o bloqueio relacionado ao COVID-19 em estudantes de medicina na Polônia”. Jornal internacional de pesquisa ambiental e saúde pública 19.1 (2022): 302.
 
Schwabe, L., & Wolf, O. T. (2013). Stress prompts habit behavior in humans. Journal of Neuroscience, 33(16), 6751-6758.
 
Hermans, E. J., Henckens, M. J., & Joëls, M. (2014). Stress-related noradrenergic activity prompts large-scale neural network reconfiguration. Science, 334(6059), 1151-1153.
 

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Autor:

Rodrigo Oliveira

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