O comportamento suicida representa uma preocupação significativa em saúde pública, sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo. Estudos recentes têm investigado as bases moleculares que podem contribuir para a predisposição ao comportamento suicida, visando compreender melhor os fatores subjacentes e desenvolver estratégias de prevenção mais eficazes. Aqui, vamos discutir um pouco sobre essas bases moleculares por trás desse comportamento.
O comportamento suicida envolve planos e atos de automutilação com alguma intenção de morrer, variando de tentativas de suicídio de baixa a alta letalidade até atos fatais (suicídio consumado). Ideação suicida é um termo amplo para definir desejos e pensamentos sobre acabar com a vida e são separados em esforços passivos (sem plano) e esforços ativos (com plano). Por outro lado, as tentativas de suicídio são ações de automutilação com intenção de morrer. Apesar do significativo impacto social, a neurobiologia do comportamento suicida ainda exige maior compreensão. Os principais fatores de risco incluem transtornos psiquiátricos, predominantemente transtorno depressivo maior (TDM), transtorno bipolar (TP), transtornos por abuso de substâncias, esquizofrenia e transtornos de personalidade. Dessa forma,a hereditariedade desempenha um papel crucial no comportamento suicida. Estudos de genética identificaram vários genes associados, incluindo aqueles envolvidos na regulação do sistema serotoninérgico, neurotransmissão glutamatérgica e plasticidade sináptica. Assim, alterações nos sistemas serotoninérgico, dopaminérgico e glutamatérgico têm sido consistentemente associadas ao comportamento suicida. A regulação anormal desses neurotransmissores pode influenciar a impulsividade, o humor e a regulação emocional, todos fatores que desempenham papéis críticos no risco suicida. Polimorfismos genéticos específicos foram implicados, destacando a importância da base genética na vulnerabilidade desse tipo de comportamento.Mudanças epigenéticas, como metilação do DNA e modificações nas histonas, têm sido associadas ao comportamento suicida. Essas alterações podem influenciar a expressão gênica, impactando circuitos neurais relacionados ao humor e ao controle comportamental. Essas alterações podem ser decorrentes de fatores ambientais e estresse psicossocial. Traumas, abuso, estresse crônico e eventos adversos na infância têm sido identificados como fatores de risco significativos para o comportamento suicida. Esses eventos podem modular a expressão gênica e afetar a neurobiologia subjacente.
Além disso, estudos indicam uma ligação entre inflamação sistêmica, estresse oxidativo e comportamento suicida. A ativação do sistema imunológico e desregulação do equilíbrio redox podem contribuir para distúrbios do humor e aumentar a vulnerabilidade ao suicídio.Resultados Amostras post-mortem de suicidas indicam grandes desregulações nas vias associadas às células gliais (astrócitos e microglia), neurotransmissão (sistemas GABAérgico e glutamatérgico), neuroplasticidade e sobrevivência celular, respostas imunes e homeostase energética. Alguns estudos de biomarcadores periféricos encontraram alterações em moléculas envolvidas nas respostas imunes, poliaminas, transporte lipídico, homeostase energética e metabolismo de aminoácidos e ácidos nucléicos (imagem abaixo).
Fonte: Pereira et al 2023
Em resumo, o comportamento suicida é um fenômeno multifacetado, no qual fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais interagem de maneira complexa. O entendimento das características moleculares associadas a esse comportamento é crucial para o desenvolvimento de estratégias de prevenção mais eficazes e intervenções personalizadas. Se você tiver apresentando algum tipo de comportamento suicida, procure um profissional médico adequado ou busque ajuda no Centro de Valorização da Vida, um programa que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente 24h de forma sigilosa, sem julgamentos, críticas ou comparações. Ligue 188 ou acesse https://cvv.org.br/ para mais informações. Sua vida importa!
Referências:
Pereira, Caibe Alves, et al. "Depicting the molecular features of suicidal behavior: a review from an “omics” perspective." Psychiatry research (2023): 115682.
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