A hipnose é um estado de consciência alterado no qual uma pessoa experimenta uma maior susceptibilidade à sugestão, ou seja, é um estado em que o indivíduo está muito suscetível a acreditar e perceber a realidade que lhe é sugerida, sem ter consciência disso. Essa técnica tem sido estudada por décadas, mas apenas recentemente a neurociência tem proporcionado insights valiosos sobre suas bases neurobiológicas. Aqui vamos entender um pouco como essa técnica funciona e qual é a neurobiologia por trás dela.
A técnica da hipnose geralmente envolve os seguintes passos: Indução, onde o hipnoterapeuta guia a pessoa a um estado de relaxamento profundo, muitas vezes usando técnicas de respiração, visualização ou sugestões verbais; estado de transe, onde a pessoa se torna mais receptiva a sugestões e imagens mentais através do uso de sugestões diretas ou indiretas para influenciar pensamentos, emoções ou comportamentos; e retorno ao estado de vigília, onde no final da sessão de hipnose, o hipnoterapeuta guia a pessoa de volta ao estado de vigília, promovendo um senso de alerta e bem-estar. Durante a hipnose, a pessoa entra em um estado de relaxamento profundo e concentração intensa, permitindo que o hipnoterapeuta ou praticante direcione a atenção do indivíduo para um foco específico. Esse método é amplamente utilizado em contextos terapêuticos para tratar uma variedade de condições, como ansiedade, fobias, insônia, controle da dor e vícios. Além disso, também pode ser utilizada para aprimorar o desempenho em áreas como esportes, estudos e habilidades criativas.
Durante uma sessão de hipnose, o indivíduo pode apresentar mudanças fisiológicas relacionadas a memórias e eventos recrutados, principalmente relacionada a mudanças cerebrais funcionais. Pesquisas realizadas com ressonância magnética funcional (fMRI) mostram que a hipnose está associada a modificações em áreas cerebrais envolvidas na atenção, percepção, controle executivo e processamento emocional, incluindo o córtex pré-frontal, o córtex cingulado anterior, o córtex somatossensorial e o sistema límbico. O córtex pré-frontal desempenha um papel fundamental na indução e manutenção do estado hipnótico. Estudos mostram que a hipnose está associada a alterações na atividade do córtex pré-frontal, incluindo uma redução da atividade em regiões envolvidas no processamento da realidade e uma maior ativação em áreas relacionadas à introspecção, imaginação e autorreferência. Dados relacionados a eletroencefalograma (EEG) mostraram amplitudes maiores para indivíduos altamente hipnotizáveis no hemisfério esquerdo. Menos atividade durante a hipnose foi observada na ínsula e no córtex cingulado anterior. Além disso, a hipnose modula a conectividade funcional entre diferentes áreas cerebrais, resultando em alterações na percepção sensorial, na regulação emocional e na modulação da dor. Também, a hipnose demonstra modular a atividade de sistemas neurotransmissores, como o sistema dopaminérgico e o sistema opióide endógeno. Já a nível genético, trabalhos de associação de genoma completo e pesquisa epigenética têm identificado genes e modificações epigenéticas associados à suscetibilidade à hipnose e às respostas terapêuticas.
A hipnose também tem sido associada a outras técnicas para potencializar as respostas terapêuticas de algumas patologias. A hipnose com realidade virtual, por exemplo, surgiu como uma opção nova e promissora para o tratamento da dor. Trabalhos utilizando EEG com eletrodos frontal, central e posterior, mostraram uma redução na potência do EEG entre 1 e 5 Hz de 100 para 560 ms e o aumento da potência do EEG de 5 para 11 Hz de 340 para 800 ms. associados a um aumento da variabilidade da frequência cardíaca, diminuição da frequência respiratória levando à redução dos níveis de dor. Dessa forma, é imprescindível que novos estudos sejam realizados utilizando a hipnose associados a outros tipos de técnicas (como a estimulação magnética ou elétrica transcraniana (tDCS/TMS) ou meditação por exemplo) no intuito de melhorar o efeito terapêutico sobre patologias.
Referências:
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