Quase um ano após a descoberta dos primeiros casos da COVID-19 na China, ainda estamos distantes de entender toda a complexidade da infecção causada pelo vírus. De fato, algumas semanas foi publicado um estudo de cientistas brasileiros que demonstrou pela primeira vez a infecção pelo SARS-CoV-2 de astrócitos no cérebro de pacientes da COVID-19, prejudicando a viabilidade neuronal, especialmente no córtex, importante região dos processos cognitivos. Além disso, acredita-se que existam outras maneiras de a doença afetar o sistema nervoso.
Pensando nisso, pesquisadores americanos avaliaram dados de eletroencefalograma (EEG) de pacientes internados com COVID-19 em um hospital de Nova Iorque com o objetivo de identificar a prevalência de anormalidades nos exames de EEG e fatores clínicos, laboratoriais e de imagem que poderiam explicar esses fenômenos. Dados de 111 pacientes foram usados. A maior parte desses pacientes estava criticamente enferma no momento dos testes (77% estavam na UTI). 13 pacientes tinham histórico de epilepsia e 42 de desordens cerebrais. Muitos dos pacientes tiveram danos cerebrais agudos durante o período de hospitalização, e quatro tiveram leucoencefalopatia com microhemorragias, uma potencial complicação neurológica da doença. Nos exames de EEG, os cientistas observaram em 30% dos pacientes padrões epileptogênicos. Convulsões foram observadas em 7 pacientes, 5 destes sem histórico prévio de epilepsia e, à exceção de pacientes conhecidamente epiléticos, 15% sofreram prováveis convulsões anteriormente ao EEG. Encefalopatia foi observada com frequência nos pacientes.
Dentre os casos do estudo, as únicas variáveis independentes que foram eficazes em prever o os padrões epileptiformes foram o histórico de epilepsia e de convulsões anteriores ao EEG, o que corrobora a hipótese de que a infecção por COVID-19 pode gerar esse efeito em pacientes em estado mais grave.
Os pesquisadores terminam evidenciando a necessidade por mais estudos acerca dos efeitos neurológicos que o SARS-CoV-2 pode exercer nos infectados. Em Wuhan, por exemplo, cerca de ⅓ dos pacientes internados com COVID-19 tiveram manifestações neurológicas, como AVC e coma, e diversos outros estudos já apontaram padrões epileptiformes nas leituras de EEG em pacientes da doença. Notadamente, foi encontrado que 15% dos pacientes sem histórico de epilepsia sofreram convulsões clínicas ou visíveis por EEG. No entanto, a triagem desses pacientes é algo que deve ser feito com cuidado, uma vez que a execução desses exames pode gerar riscos de infecção para diversas pessoas, incluindo médicos e enfermeiros.
The content published here is the exclusive responsibility of the authors.