A tomada de decisão social reúne diversos elementos do comportamento humano. Como cada um desses elementos está relacionado as áreas cerebrais?
Todos os dias e praticamente a todo momento, precisamos tomar decisões. Colocar mais sal no feijão? Vestir a blusa azul ou vermelha? Viajar ou comprar uma moto? Obviamente, que cada tomada de decisão promove consequências em diferentes proporções. Por exemplo, a decisão ter ou não um filho tem impactos muito mais substanciais comparados à escolha entre cortar o cabelo ou não. O fato é que cada tomada de decisão contribui na escrita de uma história de vida. Outros fatores importantes a serem considerados são o contexto social, a dependência da tomada de decisões de outras pessoas e o impacto das decisões tomadas sobre a vida das outras pessoas. Nesse sentido, decisões individuais terão impactos coletivos, o que muitas vezes revelará conflitos psicológicos sobre o ‘custo-benefício’ e o peso ‘emocional-racional’ da decisão a ser tomada. Baseada na necessidade emocional e racional existente nas tomadas de decisão sociais, a neurociência busca contribuir ao debate, esclarecendo como da área cerebral contribui no processo de tomada de decisão.
Os principais métodos e instrumentos neurocientíficos utilizados para estudos envolvendo tomada de decisão social são ressonância magnética funcional (fMRI), estimulação transcraniana magnética (TMS), tomografia por emissão de pósitrons (PET), manipulação de fármacos (monoaminas, neuropeptídios, hormônios esteroides), associação genética e estudos psiquiátricos com pacientes diagnosticados (depressão e ansiedade, por exemplo). Além disso, os estudos com dano cerebral (principalmente no córtex ventromedial), promovem valiosos insights para o funcionamento do cérebro durante uma tomada de decisão. Do ponto de vista psicológico, diversos aspectos são passiveis de investigação, tais com confiança, reciprocidade, senso de justiça e competitividade.
O altruísmo é um comportamento humanos que se expressa em muitos contextos de mutualidade. Nesse sentido, o sentimento de confiança precisa sobreposto ao instinto humano egoísta. Estudos de neuroimagem sugerem que a principal área envolvida na aquisição de confiança é a amídala. Além disso, o córtex pré-frontal ventromedial (VMPFC) parece exercer o papel de fundamental em analisar, a longo prazo, se a confiança exigida trará resultados de sucesso, enquanto o córtex pré-frontal dorsomedial (DMPFC) atua durante os estágio iniciais da construção de confiança. Adicionalmente a reciprocidade da confiança tem sido ligada a atividade do núcleo caudado e do córtex orbitofrontal (OFC), enquanto a quebra de uma promessa de reciprocidade de confiança está ligada a ativação de áreas ligadas a conflito e controle cognitivo, isso é, córtex cingulado anterior (ACC) e córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC).
Tomadas de decisão ligadas a distribuição de recursos disponíveis também são de grande interesse, visto o impacto sócio-político e aos ideais ligados ao senso de justiça. Um experimento que buscou identificar área ativadas durante uma tomada de decisão eficiente ou igualitária durante uma distribuição de comida. Em tomadas de decisão mais eficientes, o putamen foi a principal área cerebral ativada, enquanto que em tomadas de decisão que buscaram mais equalidade, a atividade foi maior na região da insula. Situações em que a tomada de decisão está ligadas a aceitação ou não de uma condição de injustiça promovem reações cerebrais também. A rejeição de uma oferta considerada injusta leva a maior ativação da insula, enquanto que a aceitação está mais ligadas a área de controle emocional, como o córtex pré-frontal ventrolateral (VLPFC) e redução da atividade insular.
A competitividade também é um comportamento que pode modular fortemente as tomadas de decisão social. Nesse sentido, a região DMPFC e no sulco temporal superior apresentam forte ativação quando os indivíduos decidem ser mais estratégicos em uma situação competitiva. Além disso, uma das principais causas para a estimulação do comportamento competitivo é a inveja. Nesse sentido, em ensaios que buscaram estimular a competitividade através da inveja, a área cerebral relacionada a detecção de conflito (ACC) foi ativada, o que revela um conflito comportamental entre “o que tenho/sou/conquistei” e “alguém tem mais/conquistou mais do que eu”.
Em suma é possível perceber a participação de diversas áreas da região frontal cerebral no processo de tomada de decisão. Adicionalmente, áreas mais subcorticais, como amídala, insula e putamen, também exercem papeis importantes no processo. Futuros estudos devem buscar formas de modulação de áreas corticais envolvidas nesse processo, sobretudo em situações patológicas em que a tomada de decisão é o elemento determinante, como distúrbios alimentares, ansiedade e depressão. Além disso, estudos que identifiquem os padrões neurofisiológicos (utilizando EEG e NIRS) da tomada de decisão poderão trazer respostas mais robustas a respeito da dinâmica fisiológica da tomada de decisão.
Legenda: Linhas sólidas = estrututras superficiais; Linhas tracejadas = estruturas profundas; - influencia inbitória; + influencia estimulatória; ← concecções de massa brança; DMPFC = córtex pré-frontal dorsomedial; TPJ = junção temporo-parietal; VMPFC = córtex pré-frontal ventromedial; dACC = córtex cingulado anterior dorsal; DLPFC = córtex pré-frontal dorsolateral; VLPFC = córtex pré-frontal ventrolateral; LOFC = córtex orbitofrontal lateral; STS = sulco temporal superior; 5-HT = serotonina; OT = ocitocina; T = testosterona.
Referência:
Rilling & Sanfey (2011). The neuroscience of social decision-making. Annual Review of Psychology. Doi: 10.1146/annurev.psych.121208.131647
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