A Influência do Passado no Presente e no Futuro

Tuesday, 11 de January de 2022
A infância é uma importante etapa da vida, determinante para a formação neural do indivíduo e para o estabelecimento de laços psicoemocionais entre as pessoas. Diante disso, seria possível afirmar que acontecimentos da infância são capazes de modular a vida dos adultos no futuro?

 Brainlly vestindo chapéu de criança
 
De acordo com a revisão de Scatollin e colaboradores (2021), a resposta é positiva. No estágio embrionário é que se inicia o neurodesenvolvimento, tendo a sua continuidade na fase adulta. Sob essa perspectiva, acontecimentos na infância podem gerar mudanças comportamentais, como fobias, medos e transtornos. Isso é explicado porque o cérebro conta com um mecanismo nomeado “plasticidade”, ou seja, é uma estrutura que pode sofrer modificações ao longo do tempo diante dos estímulos que recebe, o que impacta na fisiologia e morfologia do tecido.
 
Ainda segundo a revisão de Scatollin et al. (2021), é importante se fazer presente e ficar atento à primeira infância, já que é nesse período que as experiências mais influenciam a modulação do cérebro em desenvolvimento de diversas maneiras. Na meninice existem momentos críticos e sensíveis, em que a submissão ao estresse, à ansiedade ou à raiva podem causar impactos em áreas-chave, como hipocampo, amígdala e córtex pré-frontal, o que traz danos irreversíveis aos indivíduos.
 
Em concordância com Scatollin e colegas (2021), o estudo desenvolvido por Perez e colaboradores (2017) verificou que mulheres que enfrentaram situações de abuso durante a infância apresentaram modificações volumétricas no lobo insular, enquanto aquelas que não enfrentaram esse contexto traumático, mantiveram o volume da ínsula. O estudo foi conduzido com a participação de 18 voluntárias que responderam formulários de avaliação de saúde física e mental, nos quais foram detectados a ocorrência dos abusos na infância. Além disso, elas também passaram por exame de Ressonância Magnética para a aferição do volume encefálico. Ao cruzar as análises, constatou-se que àquelas que sofreram traumas na infância possuíam alterações na regiões anteriores esquerdas do lobo insular, o que corrobora os achados de Scatollin e colaboradores (2021), em que o cérebro pode sim sofrer plasticidade quando eventos traumáticos ocorrem na infância. 
 
Assim, através de estudos como esse, é possível perceber a importância de acompanhar crianças em seu desenvolvimento, para que se evite violências relacionadas a situações de vulnerabilidade, e não reflita negativamente na fase adulta.
 
Utilizando as tecnologias corretas de análise e coleta de dados, é possível proporcionar a ampliação de conhecimentos a respeito disso, nos dando ferramentas para compreender, científicamente, nossas ações e o que podemos fazer para evitar comportamentos desfuncionais.
 
Referências
 
Scattolin, M., Resegue, R. M., & Rosário, M. (2021). The impact of the environment on neurodevelopmental disorders in early childhood. Jornal de pediatria, S0021-7557(21)00162-5. Advance online publication. https://doi.org/10.1016/j.jped.2021.11.002.
 
Perez, D. L., Matin, N., Barsky, A., Costumero-Ramos, V., Makaretz, S. J., Young, S. S., … Dickerson, B. C. (2017). Cingulo-insular structural alterations associated with psychogenic symptoms, childhood abuse and PTSD in functional neurological disorders. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 88(6), 491–497. doi:10.1136/jnnp-2016-314998.

The content published here is the exclusive responsibility of the authors.

Autor:

Sayonara Pereira da Silva

#neuroscience #reasoning-valuation #formri #cognitiveneuroscience #decisionmaking #gender #relationships